quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Este planeta ainda vai te engolir!


Não sei como você chegou aqui, mas você lerá a seguir um teste, um "piloto", sobre como este espaço vai funcionar. Pensei em repassar aqui algumas coisas que fui acumulando com o tempo, materiais que fizeram parte (ou não) da minha pesquisa para a monografia de graduação. Mas queria falar sobre outras coisas também. Exercitar minha escrita, falar das coisas que gosto, reunir um portfólio de textos, desenhos, análises e pesquisas sobre animação.

Então, no final das contas, este espaço não deixará de ser um blog pessoal. Vou discutir animação brasileira, fazer reviews sobre os títulos que estão passando na TV, compartilhar curtas-metragens e clássicos, nacionais, estrangeiros e raros. Repercutir o que acredito que merece espaço pra ser visto e apreciado, fora do senso-comum. Você provavelmente não vai encontrar aqui o que está na moda, mas vai ter bastante história.


Me parece propício começar apresentando O Kaiser, a primeira animação brasileira conhecida. Pelo pouco que se sabe, nada mais era que uma charge animada que se perdeu completamente no tempo. E que diz bastante sobre o período em que foi realizada.

Guilherme II, 
o "Kaiser" da animação de Seth
Seu protagonista era uma figura real do noticiário da época, dominado pelas notícias da Primeira Guerra Mundial: o Imperador da Alemanha e Rei da Prússia, o Kaiser Guilherme II. Comandante Supremo do Exército e aliado do Império Austro-Húngaro em sua declaração de guerra contra a Sérvia em 1914, revelou-se incapaz de tomar decisões importantes para a defesa nacional alemã.

Conforme cedia aos líderes militares Paul von Hindenburg e Erich Ludendorff o controle do país e as decisões de guerra, Guilherme II perdia influência e importância na política internacional. Em 1917, era a figura decorativa de um Império em ruínas, que culminaria na sua abdicação em 1918 e na instituição da República de Weimar.

A simples animação de Álvaro Marins, o 'Seth', ilustrador e caricaturista conhecido no Rio de Janeiro pelos seus trabalhos para o jornal A Noite, nada mais era que a síntese visual da situação pela qual passava o Imperador em 22 de janeiro de 1917, data em que a animação entrou em cartaz no Cinema Pathé, no Rio de Janeiro: após descansar seu capacete sobre um globo terrestre e sentar-se à sua frente, Guilherme II acabava devorado pelo mundo em guerra.

De certa forma, a mensagem diria muito sobre a situação do Brasil naquele ano de 1917. Até então neutro à Primeira Guerra Mundial, o governo sofreu forte pressão popular nos meses que se seguiram a tomar uma posição contra a Alemanha - principalmente após episódios de ataques a navios mercantes brasileiros por submarinos alemães, que deram início a uma pesada crise diplomática. A situação culminou na declaração de guerra contra a Aliança Germânica, em 26 de outubro.

Do filme, no entanto, nada restou. Uma ilustração representando o filme pôde ser encontrada em uma entrevista com Seth, realizada em 1930 para a extinta revista Cinearte - tornando-se a única referência visual de que, um dia, O Kaiser existiu.

O primeiro vídeo do post, parte do documentário de Eduardo Calvet "Luz, Anima, Ação" (2013), apresenta uma homenagem a Seth na forma de uma obra coletiva, realizada por oito animadores de diferentes épocas da história da animação brasileira. Cada um deles animou um segmento tendo como referência apenas a ilustração de O Kaiser e o ponto que o animador anterior deixou de gancho para o próximo. Não se trata de uma reconstituição, mas de um memorial de reverência das gerações seguintes a seu grande pioneiro.

O segundo vídeo também faz parte de um documentário recente sobre a história da animação brasileira, "O Cinema Animado" (2013), realizado por Arnaldo Galvão e Sérgio Nesteriuk. Este, por sua vez, traz uma recriação de como teria sido O Kaiser originalmente. 

Ambos os vídeos trazem visões diferentes contemporâneas sobre uma obra que tornou-se uma lenda - como várias que permeiam a pouco desbravada história da animação brasileira.

As quais este blog tentará trazer à luz do público, sempre que puder.

Referências e Dicas
Caso queiram saber mais sobre Seth, sua obra e seu legado: